O PODER DO HÁBITO – Charles Duhigg
Editora Objetiva – 404 páginas
Uma seleção das melhores frases escolhidas especialmente
por Tom R. para o blog MAIS DE MIL FRASES DE EFEITO.
Lembrando que a leitura deste resumo não substitui a
importância da leitura integral do livro assim como um adiantamento salarial
não substitui todo o salário. Mas este resumo apresenta bons insights que podem
ser aproveitados em sua vida de alguma maneira.
Se reproduzir este resumo em algum outro veículo de
comunicação (blog, TV, vídeo, revista, fórum, jornal, livro, etc.) preserve os
créditos acima.
Um agradecimento especial a Thaisa Zucke pela indicação
deste livro!
Os hábitos, dizem os cientistas, surgem porque o cérebro está o
tempo todo procurando maneiras de poupar esforço. Se deixado por conta própria,
o cérebro tentará transformar quase qualquer rotina num hábito, pois os hábitos permitem que nossas
mentes desacelerem com mais frequência. Este instinto de poupar esforço é uma
enorme vantagem. Um cérebro eficiente exige menos espaço, o que permite uma
cabeça menor, tornando o parto mais fácil e portanto causando menos mortes de
bebês e de mães. Um cérebro eficiente também nos permite parar de pensar
constantemente em comportamentos básicos, tais como andar e escolher o que
comer, de modo que podemos dedicar energia mental para inventar lanças,
sistemas de irrigação e, por fim, aviões e video games.
No entanto, apenas entender como os hábitos funcionam — aprender a
estrutura do loop do hábito — já os torna mais fáceis de controlar. Assim que
você divide um hábito em seus componentes, está apto a brincar com as
engrenagens.
Os hábitos nunca desaparecem de fato. Estão codificados nas
estruturas do nosso cérebro, e essa é uma enorme vantagem para nós, pois seria
terrível se tivéssemos que reaprender a dirigir depois de cada viagem de férias.
O problema é que nosso cérebro não sabe a diferença entre os hábitos ruins e os
bons, e por isso, se você tem um hábito ruim, ele está sempre ali à espreita,
esperando as deixas e recompensas certas.”
Um dia no começo da década de 1900, um bem-sucedido executivo americano
chamado Claude C. Hopkins foi abordado por um velho amigo com uma nova ideia
comercial. O amigo explicou que
descobrira um produto incrível, que ele estava convencido de que seria
um sucesso. Era uma pasta de dente, uma preparação mentolada e espumante que
ele chamava de “Pepsodent”.
Hopkins, na época, estava no topo de uma indústria em rápida
expansão que mal existia umas poucas décadas antes: a publicidade. Ele era o
homem que convencera os americanos a comprar cerveja Schlitz alardeando que a
empresa limpava suas garrafas “com vapor vivo”, enquanto deixava de mencionar
que
todas as outras empresas usavam exatamente o mesmo método. Ele seduzira
milhões de mulheres a comprar sabonete Palmolive afirmando que Cleópatra se
banhara com ele, apesar dos protestos veementes de historiadores indignados. Ele tornara o cereal
matinal Puffed Wheat famoso dizendo que era “disparado com armas” até que os
grãos inchassem “até oito vezes o tamanho normal”. Ele transformara dezenas de
produtos antes desconhecidos — a aveia Quaker, os pneus Goodyear, a “vassoura
mágica” Bissell, o porco com feijão da Van Camp — em nomes comuns em todos os
lares. E nesse processo, ficara tão rico que sua autobiografia, o
best-seller My Life in
Advertising [Minha vida na
publicidade], dedicava longas passagens às dificuldades para gastar tanto
dinheiro.
No entanto, Claude Hopkins era mais conhecido por uma série de
regras que criou, explicando como formar novos hábitos entre consumidores.
Essas regras transformariam indústrias inteiras e acabariam se tornando uma
sabedoria convencional entre marqueteiros, reformadores pedagógicos,
profissionais da saúde pública, políticos e diretores executivos. Mesmo hoje,
as regras de Hopkins influenciam tudo, desde como compramos produtos de limpeza
até os recursos que os governos usam para erradicar doenças. Elas são fundamentais à criação de qualquer nova rotina.
Cinco anos após firmada essa parceria, Hopkins transformou a
Pepsodent num dos produtos mais conhecidos do mundo e, nesse processo, ajudou a
criar o hábito de se escovar os dentes, que se
alastrou pelos Estados Unidos numa velocidade estonteante. Em pouco
tempo, todo mundo, de Shirley Temple a Clark Gable, estava se vangloriando de
seu “sorriso Pepsodent”. Em 1930, a Pepsodent já era vendida na China, África
do Sul, Brasil, Alemanha, e em quase todos os lugares onde Hopkins pudesse
comprar anúncios. Uma década depois da primeira campanha da Pepsodent,
pesquisadores descobriram que escovar os dentes se tornara um ritual diário
para mais da metade da população americana. Hopkins ajudara a estabelecer a
escovação como uma atividade diária.
O segredo de seu sucesso, Hopkins se gabaria depois, era que ele
achara um certo tipo de deixa e recompensa que alimentara um hábito específico.
É uma alquimia tão poderosa que, mesmo hoje, os princípios básicos ainda são
usados por gigantes dos bens de consumo, criadores de video games, produtores
de alimentos, hospitais e milhões de vendedores no mundo todo.
Então, o que foi, exatamente, que Hopkins fez?
Ele criou um anseio. E esse anseio, como se descobriu, é o que faz
com que as deixas e recompensas funcionem. Esse anseio é o que alimenta o loop
do hábito.
Ao longo de sua carreira, uma das táticas que se tornaram marca registrada
de Claude Hopkins era encontrar estímulos simples para convencer os
consumidores a usar seus produtos todos os dias. Ele
vendia aveia Quaker, por exemplo, como um cereal matinal capaz de
fornecer energia para 24 horas — mas só se você comesse uma tigela toda manhã.
Anunciava tônicos que curavam dores de barriga,
dores nas juntas, pele ruim e “problemas femininos” — mas só se você
tomasse o remédio logo na primeira aparição dos sintomas.
Em pouco tempo, as pessoas estavam devorando aveia no raiar do dia
ou bebendo goles de garrafinhas marrons sempre que sentiam qualquer indício de
fadiga ou indigestão, o que, por sorte, acontecia pelo menos uma vez por dia.
“Ganhei um milhão de dólares com a Pepsodent”, Hopkins escreveu
uns poucos anos depois que o produto surgiu nas prateleiras. O segredo, disse,
era que ele “aprendera a psicologia humana certa”. Essa psicologia era
fundamentada em duas regras básicas.
Primeira: ache uma deixa simples e óbvia.
Segunda: defina claramente as recompensas.
Se você acertasse esses elementos, prometia Hopkins, era como
mágica.
Mesmo hoje, as regras de Hopkins são um ingrediente essencial dos
livros de marketing e a base de milhões de campanhas publicitárias.
E estes mesmos princípios já foram usados para criar milhares de
outros hábitos — muitas vezes sem que as pessoas se dessem conta de como estão
seguindo de perto a fórmula de Hopkins.
Estudos sobre pessoas que conseguiram instaurar novas rotinas de exercícios,
por exemplo, mostram que é mais provável elas se manterem fiéis a um plano de
exercícios se escolherem uma deixa
específica, tal como correr assim que chegam do trabalho, e uma recompensa
clara, como uma cerveja ou uma noite de TV sem culpa.
Eles queriam manter a simplicidade nos anúncios: achar uma deixa
óbvia e definir claramente a recompensa.
Se você quer começar a correr toda manhã, é essencial que escolha
uma deixa simples (como sempre amarrar os cadarços dos tênis antes do café da
manhã, ou deixar suas roupas de corrida ao lado da cama) e uma recompensa clara
(como uma guloseima no meio d dia, um senso de realização ao registrar quantos quilômetros
você correu, ou a dose de endorfina que uma corrida proporciona). Porém,
incontáveis estudos demonstraram que uma deixa e uma recompensa, por si sós,
não são suficientes para que um novo hábito dure. Só quando seu cérebro começar
a nutrir uma expectativa pela recompensa — ansiar pelas endorfinas ou pelo senso
de realização — é que o ato de amarrar os cadarços dos tênis de corrida toda
manhã se tornará automático. A deixa, além de deflagrar uma rotina, também
precisa deflagrar um anseio para que a recompensa venha.
Dezenas de outros publicitários já tinham usado a mesma linguagem
que a Pepsodent anos antes de Hopkins entrar em campo. Todos os seus anúncios
tinham prometido remover a película dental e oferecido belos dentes brancos
como recompensa.
Nenhum deles tinha funcionado.
Mas depois que Hopkins lançou sua campanha, as vendas de Pepsodent
foram às alturas. Por que a Pepsodent era diferente?
Porque o sucesso de Hopkins foi movido pelos mesmos fatores que
fizeram o macaco Julio puxar a alavanca e as donas de casa borrifarem Febreze
nas camas recém-arrumadas. A Pepsodent criou um anseio.
Depois que a Pepsodent começou a dominar o mercado, pesquisadores
de empresas concorrentes quebraram a cabeça para entender por quê. O que
descobriram foi que os consumidores diziam que, se esquecessem de usar
Pepsodent, percebiam seu descuido, pois sentiam falta daquela sensação gelada e
ardida na boca. Eles esperavam — ansiavam — por
essa leve irritação. Se isso não estivesse presente, não sentiam que suas bocas
estavam limpas.
Claude Hopkins não estava vendendo dentes bonitos. Estava vendendo
uma sensação. Uma vez que as pessoas passaram a ansiar por esse ardidinho
gelado — uma vez que passaram a associar isso à limpeza —, escovar os dentes
tornou-se um hábito.
São os anseios que impulsionam os hábitos. E descobrir como criar
um anseio torna mais fácil criar um novo hábito. Isso é tão verdade hoje quanto
era quase um século atrás. Toda noite, milhões de pessoas escovam os dentes
para ter uma sensação ardida na boca; toda manhã, milhões calçam sapatos de
corrida para receber uma injeção de endorfina pela qual aprenderam a ansiar.
Sua estratégia como técnico personificava um axioma, uma Regra de
Ouro da mudança de hábito que, segundo mostraram estudos e mais estudos, está
entre as ferramentas mais poderosas para gerar mudanças. Dungy reconheceu que
nunca se pode realmente eliminar os hábitos ruins.
Em vez disso, para mudar um hábito, você precisa manter a velha
deixa e oferecer a velha recompensa, mas inserir uma nova rotina. Eis a regra:
se você usa a mesma deixa, e fornece a mesma recompensa, pode trocar a rotina e
alterar o hábito. Quase todo comportamento pode ser transformado se a deixa e a
recompensa continuarem as mesmas.
A Regra de Ouro já influenciou tratamentos para alcoolismo, obesidade,
transtornos obsessivo-compulsivos e centenas de outros comportamentos destrutivos,
e entendê-la pode ajudar qualquer
pessoa a mudar seus próprios hábitos. (Tentativas de parar de fazer
lanches, por exemplo, muitas vezes fracassam, a não ser que haja uma nova
rotina para satisfazer as velhas deixas e anseios por recompensa. Um fumante
geralmente não consegue largar o vício se não encontrar alguma atividade para
substituir os cigarros quando seu anseio por nicotina é deflagrado.)
O sistema de Dungy acabaria transformando os Bucs num dos times
mais vitoriosos da liga. Ele se tornaria o único treinador da história da NFL a
chegar às finais em dez anos consecutivos, o primeiro técnico afro-americano a vencer um Super Bowl, e uma das
figuras mais respeitadas do esporte profissional. Suas técnicas como treinador
se disseminariam por toda a liga e todo o mundo dos esportes. Sua abordagem
ajudaria a esclarecer como se transformam hábitos na vida de qualquer pessoa.
Estudiosos de Harvard, Yale, da Universidade de Chicago, da
Universidade do Novo México e de dezenas de outros centros de pesquisa
descobriram dentro do A.A. um tipo de ciência semelhante ao que Tony Dungy usou
no campo de futebol americano. Suas descobertas endossam a Regra de Ouro da
mudança de hábito: o A.A. dá certo porque ajuda os alcoólatras a usarem as
mesmas deixas e receberem as mesmas recompensas, mas ele altera a rotina.
Para oferecer aos alcoólatras as mesmas recompensas que obtêm num
bar, o A.A. montou um sistema de encontros e companheirismo — o “padrinho” com
quem cada membro trabalha — que se esforça para oferecer tanta fuga, distração
e catarse quanto um porre de sexta-feira à noite. Se alguém precisa de alívio, pode
consegui-lo falando com seu padrinho ou comparecendo a uma reunião de grupo, em
vez de brindar com um parceiro de bebida.
“O A.A. força você a criar novas rotinas do que fazer cada noite
em vez de beber”, disse Tonigan. “Você pode relaxar e extravasar suas
ansiedades nos encontros, falando sobre elas. As deixas e recompensas continuam
as mesmas, é só o comportamento que muda.”
Então o terapeuta ensinou para Mandy o que é conhecido como
“reação concorrente”. Disse a ela que, sempre que sentisse essa tensão nas
pontas dos dedos, devia imediatamente pôr as mãos nos bolsos ou embaixo das
pernas, ou agarrar um lápis ou alguma outra coisa que tornasse impossível
colocar os dedos na boca. Depois Mandy devia procurar alguma coisa que
fornecesse um estímulo físico básico — tal como esfregar o braço ou bater os nós
dos dedos numa mesa —, algo que gerasse uma reação física.
As deixas e recompensas continuaram as mesmas. Só a rotina mudou.
Uma semana depois, Mandy tinha roído as unhas só três vezes e
usara a reação concorrente sete vezes. Ela se recompensou com uma sessão de
manicure, mas continuou usando as fichas.
Depois de um mês, o hábito de roer as unhas sumira. As reações concorrentes
tinham se tornado automáticas. Um hábito substituíra o outro.
“Parece ridiculamente simples, mas uma vez que você está ciente de
como seu hábito funciona, que reconhece as deixas e recompensas, você está a
meio caminho de mudá-lo”, disse Nathan Azrin, um dos criadores do treinamento
de reversão de hábito.
“Parece que isso deveria ser mais complexo. A verdade é que o cérebro
pode ser reprogramado. Você só precisa fazer isso de forma deliberada.”
Mandy nunca se dera conta de que um anseio por um estímulo físico
estava causando seu hábito de roer unhas, mas, uma vez que dissecou o hábito,
tornou-se fácil achar uma nova rotina que fornecia a mesma recompensa.
Digamos que você quer parar de comer fora de hora no trabalho. A
recompensa que está buscando é satisfazer sua fome?
Ou é interromper o tédio? Se você lancha para ter uma breve libertação,
pode facilmente encontrar outra rotina — tal como fazer uma caminhada rápida,
ou se dar três minutos na internet — que proporcione a mesma interrupção sem
alargar sua cintura.
Se você quer parar de fumar, pergunte a si mesmo: você faz isso
porque ama a nicotina, ou porque isso proporciona um estímulo rápido, uma
estrutura para o seu dia, um jeito de socializar? Se você fuma porque precisa de
estímulo, estudos indicam que um pouco de cafeína à tarde pode aumentar suas
chances de largar o cigarro. Mais de trinta estudos de ex-fumantes
descobriram que identificar as deixas e recompensas que eles associam aos
cigarros, e então escolher novas rotinas que forneçam
compensações parecidas — um Nicorette, uma rápida série de flexões
de braço, ou simplesmente tirar uns poucos minutos para se alongar e relaxar —,
aumenta a probabilidade de eles pararem.
“Em algum ponto, as pessoas no A.A. olham à sua volta e pensam: se funcionou para esse cara, acho que
pode funcionar para mim”, disse
Lee Ann Kaskutas, uma cientista do Alcohol Research Group. “Há algo de poderoso
em grupos e experiências compartilhadas. As pessoas talvez sejam céticas sobre
sua
capacidade de mudar se estiverem por conta própria, porém um grupo
pode convencê-las a suspender a descrença. Uma comunidade cria fé.”
Em tantas outras situações, no entanto, não houve uma tragédia que
precedesse as transformações das pessoas. Em vez disso, elas mudavam porque
estavam inseridas em grupos sociais que facilitaram a mudança.
Quando as pessoas se juntam a grupos em que a mudança parece
possível, o potencial para que ela ocorra se torna mais real. Para a maior
parte das pessoas que conseguem pôr sua vida em ordem não há
momentos cruciais de desastres que mudam tudo. Há apenas comunidades
— às vezes de uma única outra pessoa — que tornam possível acreditar na
mudança.
A evidência é clara: se você quer mudar um hábito, precisa encontrar
uma rotina alternativa, e suas chances de sucesso aumentam drasticamente quando
você se compromete a mudar como parte de um grupo. A fé é essencial e cresce a
partir de uma experiência comunitária, mesmo que esta comunidade possua apenas
duas pessoas.
Sabemos que a mudança pode acontecer. Alcoólatras
podem parar de beber. Fumantes podem largar o cigarro. Eternos perdedores podem
virar campeões. Você pode parar de roer as unhas ou de fazer lanche no
trabalho, de gritar com seus filhos, de passar a noite acordado, ou de se
atormentar com pequenas
preocupações. E, como descobriram os cientistas, não são apenas as
vidas individuais que podem ser mudadas quando alguém dedica atenção aos
hábitos.
Quando as pessoas começam a fazer exercícios habitualmente, mesmo
com uma frequência baixa, como uma vez por semana, elas começam a mudar outros
padrões não relacionados em suas vidas, muitas
vezes sem saber disso. Tipicamente, pessoas que fazem exercícios começam
a se alimentar melhor e se tornar mais produtivas no trabalho. Elas fumam menos
e demonstram mais paciência com colegas e familiares. Usam seus cartões de
crédito com menos frequência e afirmam
sentir menos estresse. O motivo não é totalmente claro. Mas para muitas pessoas
o exercício é um hábito angular que deflagra mudanças disseminadas. “O
exercício transborda para outras áreas”, disse James Prochaska, um pesquisador
da Universidade de Rhode Island. “Há algo nele que facilita os outros hábitos.”
Estudos documentaram que famílias com o hábito de jantar juntas
parecem educar crianças com melhor aptidão para as lições de casa, melhores
notas, maior controle emocional e mais confiança.
Arrumar a cama toda manhã é correlacionado com uma produtividade
melhor, uma maior sensação de bem-estar, e maior aptidão para se manter dentro
do orçamento. Não que uma refeição em família ou uma cama arrumada cause melhores notas ou menos despesas supérfluas. Mas, de algum modo,
essas mudanças iniciais deflagram reações em cadeia que ajudam outros bons
hábitos a se firmarem.
As pequenas vitórias são exatamente o que parecem ser, e são parte
de como os hábitos angulares geram mudanças disseminadas.
“Pequenas vitórias são uma
aplicação constante de uma pequena vantagem”, escreveu um professor de
Cornell em 1984. “Uma vez que uma pequena vitória foi conquistada,
forças que favorecem outra pequena vitória são postas em movimento.” Pequenas
vitórias alimentam mudanças transformadoras, elevando vantagens minúsculas a
padrões que convencem as pessoas de que conquistas maiores estão dentro de seu
alcance.
Conforme as pessoas fortaleciam seus músculos da força de vontade
numa parte de sua vida — na academia, ou num programa de gerenciamento de dinheiro
—, essa força transbordava para o que eles comiam ou para seu empenho no
trabalho. Uma vez que a força de vontade se tornava mais poderosa, ela afetava
tudo.
“Quando você aprende a se
forçar a ir à academia, a começar sua lição de casa ou a comer uma salada em
vez de um hambúrguer, parte do que está acontecendo é que você está mudando o modo
como pensa”, disse Todd Heatherton, um pesquisador de Dartmouth que trabalhou
em estudos sobre a força de vontade. “As pessoas aprendem a controlar melhor
seus impulsos. Aprendem a se distrair das tentações. E uma vez que você entrou
nesse sulco criado pela força de vontade, seu cérebro tem prática em ajudar você a se concentrar num objetivo.”
“É por isso que colocar as
crianças em aulas de piano ou de esportes é tão importante. Não tem nada a ver
com criar um bom músico ou um craque do futebol de 5 anos”, disse Heatherton.
“Quando você aprende a se obrigar a praticar durante uma hora ou correr
15 voltas, começa a construir força de autocontrole. Um menino de 5 anos capaz
de seguir a bola durante dez minutos se torna um aluno de sexta série que pode
começar a lição de casa na hora certa.”
Parece absurdo pensar que o ato de dar às pessoas alguns pedaços
de papel em branco pode fazer uma diferença na rapidez com que elas se
recuperam de uma cirurgia. Mas quando a pesquisadora visitou os pacientes três meses
depois, descobriu uma diferença marcante entre os dois grupos. Os pacientes que
tinham escrito planos em seus folhetos haviam começado a andar quase
duas vezes mais rápido do que os que não tinham. Eles começaram a sentar e
levantar da cadeira, sem ajuda, quase três vezes mais rápido. Estavam calçando
os sapatos, lavando roupa e preparando refeições mais depressa que os pacientes
que não tinham anotado previamente suas metas.
O simples ato de dar aos empregados um senso de autonomia — uma
sensação de que estão no controle, de que têm autoridade legítima para tomar
decisões — pode aumentar radicalmente o grau de energia e o foco que eles
dedicam ao emprego.
Dar aos empregados um senso de controle melhorou o grau de
autodisciplina que dedicavam a seus empregos.
Para convencer os americanos a comer fígados e rins, as donas de
casa precisavam saber como dar à comida uma aparência, sabor e aroma o mais
semelhante possível àquilo que suas famílias esperavam ver na
mesa do jantar toda noite, concluíram os cientistas. Por exemplo, quando a
Divisão de Subsistência do Corpo de Quartéis-Mestres — as pessoas encarregadas
de alimentar os soldados — começou a servir repolho fresco para as tropas em
1943, ele foi rejeitado. Então os refeitórios picaram e cozinharam o repolho até ele ficar parecido com qualquer outro legume
na bandeja de um soldado — e as tropas comeram sem reclamar. “Os soldados
tendiam mais a comer a comida, fosse conhecida ou estranha, quando ela era
preparada de um modo parecido com suas experiências anteriores e servida de um
jeito familiar”, escreveu um pesquisador de hoje avaliando estes estudos.
Seja vendendo uma nova música, uma nova comida ou um novo berço, a
lição é a mesma: se você veste alguma coisa nova em hábitos antigos, fica mais
fácil para o público aceitá-la.
A utilidade desta lição não se restringe a grandes corporações, órgãos
do governo ou empresas de rádio tentando manipular nossos gostos. Estas mesmas
descobertas podem ser usadas para mudar o modo como vivemos.
Para comercializar um novo hábito — seja ele um alimento ou um
exercício aeróbico — é preciso entender como fazer com que o novo pareça
familiar.
“O que descobrimos foi que, neurologicamente falando, os jogadores
patológicos ficavam mais entusiasmados com a vitória. Quando os símbolos se
alinhavam, mesmo que eles não chegassem
a ganhar nenhum dinheiro de verdade, as áreas em seu cérebro relacionadas
à emoção e recompensa eram muito mais ativas do que em jogadores não
patológicos. Mas o realmente interessante foram as quase vitórias. Para os jogadores patológicos, perder por
pouco era um resultado parecido com uma vitória. Seu cérebro reagia quase do
mesmo jeito. Mas para um jogador não patológico, uma quase vitória parecia uma
derrota. Pessoas sem problemas com jogos eram mais capazes de reconhecer que
perder por pouco continua querendo dizer que você perdeu.”
Os jogadores não compulsivos, ao ver uma quase vitória, recebiam
uma dose de apreensão que deflagrava um hábito diferente, aquele que diz: Eu deveria parar antes que fique pior.
As empresas de jogos estão muito cientes dessa tendência, é claro,
e é por isso que, nas últimas décadas, os caça-níqueis têm sido reprogramados
para gerar uma quantidade mais constante de quase vitórias.13 Os jogadores que continuam apostando depois de quase
vencer são aquilo que torna os cassinos, pistas de corrida e loterias estaduais
tão lucrativos. “Acrescentar uma quase vitória a uma loteria é como jogar
gasolina numa fogueira”, disse um consultor da loteria estadual que falou
comigo sob a condição de anonimato. “Quer saber por que as vendas dispararam?
Um em cada dois bilhetes de raspadinha é programado para fazer você sentir que
quase ganhou.”
Porém todo hábito, por maior que seja sua complexidade, é
maleável. Os alcoólatras mais viciados podem ficar sóbrios. As empresas mais disfuncionais
podem se transformar. Um menino que largou o ensino médio pode se tornar um gerente bem-sucedido.
No entanto, para modificar um hábito, você precisa decidir mudá-lo. Deve aceitar conscientemente a dura
tarefa de identificar as deixas e recompensas que impulsionam as rotinas do
hábito e encontrar alternativas. Você precisa saber que possui o controle e ser
autoconsciente o bastante para usá-lo.
“Toda a nossa vida”, nos
disse William James no prólogo, “na medida em que tem forma definida, não passa
de uma massa de hábitos — práticos, emocionais e intelectuais —
sistematicamente
organizados para nossa felicidade ou nosso sofrimento e nos conduzindo
irresistivelmente rumo ao nosso destino, qualquer que seja ele”.
“Tem dois peixes jovens
nadando juntos, e eles por acaso encontram um peixe mais velho nadando no outro
sentido, que acena para eles e diz: ‘Bom dia, meninos. Como vai a água?’”,
disse o escritor David
Foster Wallace a uma classe de graduandos em 2005. “E os dois peixes
jovens continuam nadando um pouco; então uma hora um deles olha para o outro e
diz: ‘Água? O que é água?’”
A água são os hábitos, as escolhas impensadas e decisões invisíveis
que nos cercam todos os dias — e que, pelo simples ato de olharmos para elas,
se tornam visíveis de novo.
Ao longo de toda a sua vida, Willam James escreveu sobre os hábitos
e seu papel central em gerar felicidade e sucesso. Ele acabou dedicando um
capítulo inteiro de sua obra-prima The Principles of
Psychology [Os princípios da psicologia] a esse assunto. A
água, disse ele, é a analogia mais apropriada para como um hábito funciona. A
água “escava um canal para si mesma, que vai ficando mais largo e mais
profundo; e, após ter deixado de fluir, ela retoma, ao fluir novamente, o
caminho antes traçado por ela própria”.
Você agora sabe como redirecionar esse caminho. Você agora tem o
poder de nadar.
A parte difícil de estudar a ciência dos hábitos é que a maioria
das pessoas, quando ouvem falar nesse campo de pesquisa, querem saber a fórmula
secreta para mudar rapidamente qualquer hábito. Se os cientistas descobriram
como esses padrões funcionam, então é razoável pensar que eles também devem ter
achado uma receita para a mudança rápida, certo?
Se ao menos fosse assim tão fácil.
Não é que fórmulas não existam. O problema é que não há uma única
fórmula para mudar hábitos. Há milhares.
Os indivíduos e os hábitos são todos diferentes, e por isso as maneiras
específicas de diagnosticar e mudar os padrões em nossas vidas diferem de uma
pessoa para a outra e de um comportamento para o outro. Parar de fumar é diferente de deixar de comer compulsivamente,
que é diferente de mudar o modo como você se comunica com seu cônjuge, que é
diferente de como você prioriza as tarefas no trabalho. Além disso, os hábitos
de cada pessoa são guiados por anseios diferentes.
Consequentemente, este livro não contém uma única prescrição. Em
vez disso, esperei ter proporcionado algo diferente: um modelo para entender
como os hábitos funcionam e um guia para experimentar o modo como eles podem
mudar. Alguns hábitos prestam-se facilmente à análise e influência. Outros são
mais
complexos e persistentes, e exigem estudo prolongado. E para outros,
a mudança é um processo que jamais se conclui totalmente.
Mas isso não significa que ela não pode acontecer.
Preencha a linha abaixo com seu e-mail e usufrua Já desta vantagem:
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